sexta-feira, 30 de maio de 2014

Olá de novo:

assistam o filme sobre Hildegarda de Bingen on line, e com legenda em português:


Visão: Da Vida de Hildegarda de Bingen

 2009

Vision: Aus Dem Leben Hildegard Von Bingen

Dirigido por: Margarethe von Trotta
106 minutos
Uns conhecem seus ensinamentos sobre ervas medicinais; outros, suas composições musicais. Mas poucos se aprofundaram na personalidade de Hildegard von Bingen. Margarethe von Trotta filmou a sua biografia.
O filme mostra um mundo diverso por trás dos muros de um mosteiro. Apesar das rigorosas normas eclesiásticas, Hildegard von Bingen conseguiu conquistar um espaço para si nesse ambiente marcado pela religião, algo mais do que incomum naquela época.
Estreia Mundial:
24 de Setembro de 2009

Elenco
·         Annemarie Düringer Äbtissin Tengwich
·         Barbara Sukowa Hildegard von Bingen
·         Christoph Luser Hartwig von Bremen
·         Devid Striesow Kaiser Friedrich Barbarossa
·         Gerald Alexander Held Abt Kuno






O ser humano sinfônico de Hildegard de Bingen

Olá a todos que seguem o blog,  fiquei um tempo sem postar... aqui vai um texto:

O ser humano sinfônico de Hildegard de Bingen

Quase 400 anos antes que desenhasse o Homem vitruviano, a celebre representação das proporções ideais do corpo humano que demonstra como ele poderia ser harmoniosamente inscrito nas figuras do círculo e do quadrado,Hildegard von Bingen havia levantado a hipótese do homem sinfônico.

A reportagem é de Marcello Filotei, publicada no jornal do VaticanoL’Osservatore Romano, 09-09-2010. A tradução é de Benno Dischinger.

O que para Leonardo será a geometria, para a santa eram a música e a poesia. A alma humana é de fato composta, para Hildegard, de diversos elementos que se encontram coordenados, harmonizados e se fundem uma espécie de sinfonia, entendida como um todo coerente. Esta união se exprime tanto na relação harmoniosa entre mente e corpo, como no próprio ato de compor. A música é para Hildegard terrestre e celeste ao mesmo tempo: feita com meios humanos para evocar, ao menos por um momento, a consonância celeste.

Até a idade de 40 anos, todavia, a santa não se sentiu inclinada a escrever poesia litúrgica e música. Mas, bastaram-lhe poucos anos de atividade para obter os primeiros reconhecimentos. Pouco mais de uma década após o início de sua “carreira artística”, chegaram, de fato, as primeiras apreciações: foi um mestre parisiense de nome Odo que em 1148 louvou a originalidade de suas canções.

E, de fato, na lírica européia da Idade Média Hildegard fala uma língua insólita. Evidentemente conhece bem a linguagem figurada do amor místico, mas também usa relações simbólicas criadas pelos Padres da Igreja e usa em abundância metáforas para conferir os traços de esposa do Cordeiro de Deus, tanto à Ecclesia quanto a uma virgem mártir. O ponto de partida de seu pensamento teológico e, portanto, poético e musical, é o de ver em Maria a redentora da culpa de Eva.

Trabalhando sobre as imagens correlatas a este conceito cria andamentos de rapsódia, útil instrumento para abandonar-se às alegrias da liberdade poética. Não se preocupa demasiado em respeitar as rígidas formas da linguagem tradicional, mas deixa-se fascinar por audazes metáforas e, em particular, usa com insistência a forma retórica da anáfora, repetindo o início de frases com hipnótica insistência. A santa usa abundantemente superlativos e exclamações, mas tudo é sempre jogado sobre o fio do simbolismo: patriarcas e profetas aparecem como raízes de um pequeno fruto fecundo.

Sua linguagem musical e poética recorre prazerosamente a efeitos particulares quando não abertamente violentos, refutando os estilemas polidos, em voga entre os seus contemporâneos. Isto permite-lhe garantir certa autonomia da música em relação ao texto, que é sempre de sustentação, mas não é a única fonte da qual se deduz o andamento melódico. E também é por isso que Hildegard também escreveu composições instrumentais.

Sempre pronta a louvar Deus com a harpa da profunda submissão e com a cítara do canto doce como o mel, com o instrumento de corda da redenção da humanidade e com a charamela [cornamusa italiana, ndt] da proteção divina (cf. Scivias, 13, iii, comentário ao salmo 150).  Irreverente, a ponto de enfrentar diretamente um imperador, não renunciou à tendência de sublinhar o papel fundamental da mulher na Igreja; em sua coletânea Symphonia harmoniae caelestium revelationum, na qual já se acena desde o título à origem divina de sua inspiração, os cantos dedicados às grandes figuras do panteão cristão reservam uma atenção toda particular às figuras femininas, entre as quais se destacam a Virgem Maria e santa Úrsula.

A visão de Hildegard era toda esférica, como acontecia com freqüência na Idade Média: fé e poesia eram as duas faces da mesma medalha, a música o colante necessário.